sexta-feira, 5 de abril de 2013

O Diretor do Lloyds Bank e o Presidente da Coreia do Norte

O Director do Banco Lloyds assumiu ter tido um problema de saúde por privação de sono e excesso de trabalho.

Kim Jong-un, Presidente e Chefe Militar da Coreia do Norte, dorme três horas por dia e faz jejuns.

De comum a ambos, a privação de sono!

Horta Osório reconhece-a como problema grave, enquanto Jong-un é tido como génio.

Em Londres, disseram que a privação de sono atingiria cerca de 50% das pessoas. E aqui? Há indicadores alarmantes: 50% das crianças e jovens têm sonolência excessiva. Diariamente, consulto doentes com privação de sono/excesso de trabalho.

São de todas as idades, ambos os sexos e todas as classes sociais. São os que governam e os que são governados. São executivos, funcionários, assalariados e independentes. São comerciantes e vendedores. São os que querem subir na vida e os que nela estão altos. São ricos, pobres e remediados. São os que trabalham por turnos e os que não têm horário de trabalho. São mães e são pais. São mães separadas com filhos a cargo; são pais com dois empregos para sustentar a família; são os que fazem tudo para pagar dívidas e os que exigem pagamentos. São os que exercem cargos de poder e os que não têm poder nenhum. São muitos...

Primeiro trabalha-se muito porque tem de ser!

Vai-se noite dentro, deitando tarde, levantando cedo. Ouvem-se elogios. Fantástico! Que energia! Que capacidade! Vêem-se os resultados. Respostas na hora. O e-mail não espera, os telemóveis sempre activos. O dinheiro entra ou há-de entrar. O sucesso bate à porta ou irá bater.

Mas... começam os erros, os lapsos fugazes, a palavra que não vem, o encontro que se esquece, o erro profissional.

Depois vêm a irritação, os nervos à flor da pele. O bocejar inoportuno, a desatenção. A memória a fugir.

De início, chega-se à cama e dorme-se logo, mas depois quer-se dormir e não se dorme. Nem de noite, nem de dia. Olhos escancarados, cabeça em rodopio! Noites brancas, mesmo em férias.

O sono quebrado, a bênção perdida!

O desespero, a depressão, a memória estragada, o raciocínio manco, o humor deplorável, o “burned out”.

Acontece aos melhores, aos mais bem preparados, aos mais inteligentes.

Os génios não dormem pouco. Alguns, como Einstein, eram mesmo dorminhocos.

O sono garantiu a sobrevivência durante milhões de anos.

O grande beneficiário é o cérebro. O sono consolida as memórias, a aprendizagem e os conhecimentos abstractos, ajuda na resolução de problemas, estimula a criatividade e estabiliza as emoções.

Para pensar e estar bem, é preciso dormir!

O corpo é outro beneficiário. Dormir de menos ou de mais aumenta o risco de diabetes, obesidade, doenças cardiovasculares, hipertensão, cancro, acidentes e diminui a esperança de vida.

Para ser saudável, é essencial dormir!

São precisas regras e regularidades no dormir, no comer, no repouso, no exercício. Cuidado, a doença resulta de erros nas regras da natureza!

São precisos limites, no trabalho, no crédito, nas despesas, no prazer, no sofrimento, em tudo.

Não somos escravos. Precisamos de pausas ao longo do dia, de tempo para estar e ser.

Não somos, quais gladiadores, instrumentos para deitar fora quando nos acomete uma incapacidade.

Aonde chegámos com tanto trabalho, tanto desassossego, tanto crédito, tanta coisa?

A um país em crise, a uma sociedade doente, com pessoas tristes sem futuro à vista.

Aonde irá chegar Kim Jung-un, sem controlo nas suas estratégias bélicas, desafiantes e impulsivas? Quais os sofrimentos indizíveis a que levará o seu povo? Quanta dor, tristeza, devastação se disseminará por aquela região?

Será tudo isto o trabalho de um cérebro genial ou antes o resultado final de um cérebro com graves problemas de decisão e tendências impulsivas/agressivas, agravadas pela privação de sono?

Deus descansou ao sétimo dia e nós não somos certamente deuses.
 
Professora Teresa Paiva
Lisboa, 5 de Abril de 2013



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2 comentários:

Anónimo disse...

Dra. Teresa, tem toda a razão.
Vivemos numa sociedade cada vez mais doentia do ponto de vista físico e psicológico. No geral, fomos educados naquela mentalidade cristã de que o trabalho dignifica e que o ‘salário’ é a recompensa do nosso esforço. Eu até concordo com esta postura e, quando era criança, a minha Avó contava-me sempre aquela história pedagógica da ‘cigarra’ preguiçosa que passava todo o Verão a cantar em cima de uma árvore enquanto a ‘formiguinha’ trabalhadora acumulava comida e construía a sua casa… Quando chegava o Inverno, a ‘cigarra’ estava cheia de frio e a ‘formiga’ tinha conseguido proteger-se :) - Eu concluía que valia mais sermos como a ‘formiga’ previdente, poupada e esforçada. - E é engraçado que, passaram-se tantos anos, mas estas histórias infantis povoam o meu imaginário e estão subjacentes à minha maneira de ser. Além disso, elogia-se mais alguém que está ocupado e é trabalhador do que aquele que anda na preguiça e que espera alcançar tudo sem sacrifício. Realmente, parece que consideramos o trabalho como um dever que traz mérito e, pelo menos, eu não me sinto bem com a minha consciência se não fizer nada de útil. Claro que podemos cair, tal como refere, no excesso de trabalho e valorizar apenas os méritos, as honras ou vaidades, ou ainda pior, o apego aos materialismos… Se uma pessoa trabalhar demais não só prejudica a saúde como não tem tempo para cultivar as amizades ou manter laços com a família. Quanto a mim, sinto que talvez em muitos casos, o indivíduo trabalha demais não apenas para ganhar dinheiro, naquela ganância terrível, e parece-me que vê no trabalho um ‘refúgio’ para a sua infelicidade. Vejo tantas pessoas infelizes à minha volta que se agarram ao trabalho para não terem de pensar em problemas. No fundo, o trabalho pode tornar-se escravizante, pode tornar-se uma dependência ‘workaholic’, mas pode ser igualmente um ‘entretenimento’, uma fonte de prazer e de encontrar um sentido para a vida, de fazermos algo útil pelos outros.
Eu considero a sua profissão de médica, mais do que uma profissão, um ‘sacerdócio’, uma devoção e uma doação incrível! Acho que deve ser difícil, no caso de um médico, ter um horário de trabalho, visto que acaba por sentir isso como uma espécie de ‘missão’. Nestas situações, o trabalho torna-se nobre e até é compreensível o excesso… Agora trabalhar demais somente por causa de dinheiro, colocar essa moeda acima dos sentimentos é mesmo uma degradação da ‘alma’ das pessoas. Qualquer dia, seremos como ‘máquinas’ e ‘computadores’ que executam funções, sem vida e sem ‘alma’. Deve ser isto que estes 'políticos' esperam de nós, ‘robots’ em vez de ‘pessoas’… como naquele filme americano "Matrix". (de Joana Macedo Luís)

Teresa Paiva disse...

Cara Joana

Gostei muito do seu comentário, que me acho muito lúcido, muito claro e muito "sentido".
O problema é que trabalhar para não sentir infelicidade, faz-nos entrar numa espiral de infelicidade e de solidão, e no fim do caminho o problema é pior que no princípio.
Gostava de dizer que qualquer pessoa, médico, sacerdote, missionário, etc, etc, se não cuidar de si também não vai estar em condições de cuidar ou de ajudar outros. Por isso todos temos que ter regras de bom senso, ter limites e descanso.
Ficarei muito contente de continuar a ouvir as suas opiniões e obrigada por as dar
Um abraço , com amizade Teresa Paiva

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