Quando eu era pequena, os marialvas dedicavam-se
a carros e mulheres ou a touros e mulheres, com ou sem misturas de fado e
valentes bebedeiras. Bonitos ou feios, não seriam particularmente inteligentes
ou cultos, mas andavam afadigados nas já referidas ocupações.
Nesse tempo, as mulheres ou eram mães ou eram
mulheres, raramente ambas, porque quando mães, avolumavam-se e, redondinhas,
perdiam o interesse dos maridos, e, quando eram mulheres, rodeavam-se de tias
solteiras e/ou “criadas” (nome dado às empregadas domésticas) e, preocupadas
com vestidos e festas, delegavam a atenção aos filhos para planos secundários.
Hoje tudo é diferente.
As super-mulheres de hoje são tudo: mães, esposas,
profissionais e domésticas, e, para o conseguirem, fazem piruetas acrobáticas
para fazer tudo em condições: tratam dos filhos, embelezam-se para o marido,
são perfeitas no trabalho e ainda arrumam a casa.
Impossível! Não se pode fazer tudo bem, sobretudo
porque falta tempo para serem elas próprias.
Tensas e irritáveis, organizam-se cada vez mais
para se perderem de seguida em consequências funestas: esgotamento, depressão,
separação e outras trapalhadas, e muitos sonhos desfeitos apesar do muito
trabalho e do grande empenhamento.
E os homens? Um homem com um mínimo de sensatez
não se atreve a gabar-se publicamente das suas conquistas femininas, nem das
velocidades supersónicas dos seus carros, nem de noites encharcadas em vinho.
Se o fizesse, teria à perna feministas, jornalistas, e outros tantos críticos
e, quiçá, arriscava perseguição de qualquer forma de polícia.
De que se gabam, então? Espantada, ouço nos media, de forma reiterada e sucessiva,
uma frase com sabor de auto-elogio: “Durmo poucas horas, mas…”; “Durmo pouco”;
“Não dormi”.
Dormem pouco? Alguém quereria que um cirurgião o
operasse, com mão imprecisa e olhos sonolentos por não ter dormido? Certamente
que não.
Então porque havemos de querer que aqueles/as que
tratam de assuntos importantes das instituições ou da nação, ou que lidam com
matérias do nosso quotidiano, ou que tratam de aspectos económicos das mais
variadas dimensões, que trabalham aqui, ali e acolá nas instituições mais
variadas, em suma, aqueles/as que precisam de pensar, exerçam essas funções
privados/as de sono?
Sabe-se que a privação de sono afecta o lobo
frontal e as suas funções executivas, atingindo também o pensamento abstracto,
a flexibilidade de raciocínio, a capacidade criativa, a memória, a aprendizagem.
No seu livro Sleepfaring,
Jim Horne questiona exactamente o efeito da privação de sono em pessoas em
lugares chave de decisão.
Efectivamente o conselho mais importante de
Clinton a Obama foi que dormisse bem, porque ele próprio tinha cometido erros,
sempre que não dormira o suficiente.
Voltando à “velha guarda”, não consta que o Dr.
Mário Soares alguma vez se tenha gabado de dormir pouco. O Einstein também não.
Porque... quem não dorme bem não pode
pensar bem e, tal como já dizia Nietzsche em Assim falava Zaratustra:
"Todos vós, que amais o trabalho
desenfreado (...), o vosso labor é maldição e desejo de esquecerdes quem
sois."
Prof. Teresa Paiva
Lisboa, 21 de Junho de 2013
1 comentário:
Prof. Teresa Paiva,
Este artigo na parte sobre as Supermulheres atinge-me,quanto às consequências de dormir pouco. Sou testemunha dessa situação e posso confirmar que quando durmo pouco, sinto que não tenho condições para tomar decisões de modo ponderado, ser assertiva nas reuniões, mobilizar as pessoas da equipa de trabalho com pedagogia e até humor. Obrigada por ter publicado este artigo. Clara
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